Todo sábado, às 19h, no mesmo banco, no mesmo
lugar, independentemente de chuviscos ou trovões, você encontrará o tio Gentil
na igreja matriz de Nova Europa, ritual seguido por aproximadamente 20 anos. E
no final de cada celebração aguarda na mesma porta de saída os familiares e
conhecidos, com os bolsos da calça carregados, para distribuir chicletes plets
de canela e balas toffee que até perderam sua identidade tornando-se
simplesmente os doces do tio Gentil.
Gentil é realmente gentil. Criado no sítio trouxe
a solidariedade e preocupação com o próximo, tão presentes na vida do campo
para a cidade. Observava sempre sua mãe, a vó Solinha, atravessar a pinguela e
levar um pouco do pão, carne ou bolo para os vizinhos, que moravam do outro
lado do rio. Com sua mudança para a cidade, não se intimidou diante dos novos
costumes. Afinal, moramos tão perto das pessoas, mas muitas vezes somos mais
distantes, mal sabemos o nome de nossos vizinhos. Para aproximar-se e ao mesmo
tempo distrair-se fez uma pequena horta em volta de sua casa, onde passa
horas. Não é a toa que suas verduras possuem a fama de serem ótimas. Não vende,
leva para os vizinhos, uma simples demonstração de delicadeza.
Personagens únicos do nosso dia a dia que
levam uma vida tranquila, e que ali, no anonimato, quase sem ninguém notar, com
pequenas atitudes deixam nossos dias mais alegres. E demonstram que o pouco, o simples, até mesmo a rotina podem fazer- nos muito felizes.